Artigos | Da redação/ com Paiva Netto | 15/06/2016 10h32

Tóxicos: “Carta de um filho para o pai”

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Nos idos de 1980, apresentei, na Super Rede Boa Vontade de Comunicação* (rádio, TV e publicações, hoje, o fazemos também pela internet), “Carta de um filho para o pai”, publicada em O Imparcial, de Monte Alto/SP. Nela, um jovem de 19 anos, usuário de entorpecentes, escreve um bilhete de adeus ao seu genitor. Diante da comoção dos ouvintes, determinei que o texto fosse impresso em diferentes idiomas. É indispensável o esclarecimento dos pais. Nas passeatas e panfletagens, em conferências, na rádio e na TV, os orientamos a prestar maior atenção ao cotidiano dos filhos, suas amizades, dúvidas, ambientes que frequentam. O caso é verídico, aconteceu num hospital de São Paulo/SP:

“Acho que neste mundo ninguém procurou descrever seu próprio cemitério. Não sei como meu pai vai receber este relato, mas preciso de todas as forças enquanto é tempo. Sinto muito, meu pai, acho que este diálogo é o último que tenho com o senhor. Sinto muito, mesmo... Sabe, pai, está em tempo de o senhor saber a verdade de que nunca desconfiou. Vou ser breve e claro, bastante objetivo.
“O tóxico me matou. Travei conhecimento com meu assassino aos 15 anos de idade. É horrível, não, pai? Sabe como conheci essa desgraça? Por meio de um cidadão elegantemente vestido, bem elegante mesmo, e bem-falante, que me apresentou ao meu futuro assassino: a droga.

“Eu tentei recusar, tentei mesmo, mas o cidadão mexeu com o meu brio, dizendo que eu não era homem. Não é preciso dizer mais nada, não é, pai? Ingressei no mundo do vício.
“No começo foi o devaneio; depois as torturas, a escuridão. Não fazia nada sem que o tóxico estivesse presente. Em seguida, veio a falta de ar, o medo, as alucinações. E logo após a euforia do pico, novamente eu me sentia mais gente do que as outras pessoas, e o tóxico, meu amigo inseparável, sorria, sorria.

“Sabe, meu pai, a gente, quando começa, acha tudo ridículo e muito engraçado. Até Deus eu achava cômico. Hoje, no leito de um hospital, reconheço que Deus é mais importante que tudo no mundo. E que sem a Sua ajuda eu não estaria escrevendo esta carta. Pai, eu só estou com 19 anos, e sei que não tenho a menor chance de viver. É muito tarde para mim. Mas ao senhor, meu pai, tenho um último pedido a fazer: mostre esta carta a todos os jovens que o senhor conhece. Diga-lhes que em cada porta de escola, em cada cursinho de faculdade, em qualquer lugar, há sempre um homem elegantemente vestido e bem-falante que irá mostrar-lhes o futuro assassino e destruidor de suas vidas e que os levará à loucura e à morte, como aconteceu comigo. Por favor, faça isso, meu pai, antes que seja tarde demais para eles.

“Perdoe-me, pai... já sofri demais, perdoe-me também por fazê-lo padecer pelas minhas loucuras.
“Adeus, meu pai”.

* * *

Algum tempo após escrever essa carta, o jovem morreu.

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